Quando pensei em fazer a série Tour pelo Mundo, fiquei pensando como eu faria a ordem dos países! Não sabia exatamente por qual deles começar. Pensei em colocar os que mais gostei primeiro, mas quando abri minha pastinha de fotos de Luanda, muitas lembranças voltaram à minha cabeça!

Vista da Cidade desde o Morro da Cruz

Eu tive a oportunidade de ir uma única vez para lá! Se você ainda não viu, contei que trabalhei como comissária de bordo em Dubai e que isso me proporcionou viajar pelo mundo!

Me lembro que era um vôo disputadíssimo. Não por ser um destino turístico atrativo, mas pela diária do pernoite que nos davam. Mesmo assim, a viagem foi super tranquila! Corrida, com bastante trabalho, porém tranquila! A tripulação era ótima, meus chefes também e ainda conheci um casal argelino que mudaria o meu pernoite por lá!

Sobre Luanda

Luanda é uma cidade costeira, com quase 2,5 milhões de habitantes, é a capital da Angola e fica em um dos mais ricos do mundo. Entretanto, o problema desse detalhe, é que a riqueza não chega exatamente até a população. É um país caríssimo, com condições básicas precárias e muita violência na rua!

Vista desde o Morro da Cruz

Segurança

Ao chegar, já quis bater perna! Saímos logo em seguida, em grupo, pelas ruas próximas ao hotel e logo percebi que chamávamos muito a atenção! Os locais se aproximavam de nós e nem sempre pareciam ter boas intenções. Imaginem só, eramos um bando de turistas sem rumo!

Em uma das situações, tive um insight! Um cara veio andando pra cima de uma das meninas e eu entrei na frente, falando português! Ele ficou meio confuso. Me perguntou de onde era e quando falei Brasil, tudo mudou.

Eles amam o Brasil! Ufa, foi a nossa saída. Até porque, logo ali na frente, dois caras se arrebentavam no chão em frente a um bar e um deles tinha uma arma. Precisávamos sair dali e, com sorte, tudo deu certo! Eu andava parecendo uma matraca, falava com todo mundo na rua, para que soubessem que tinha brasileiro andando por ali. Aquele extinto de sobrevivência, acho! Foi um pouco assustador.

Passeio

Naquele fim de tarde, conversei com minha chefe de cabine, pois havia recebido um convite para passear no dia seguinte com a família argelina que havia conhecido no avião. Ela estava muito preocupada. Não queria que eu fosse sozinha! Na verdade, não precisávamos pedir autorização para ir à lugar algum. No entanto, ela havia conhecido o casal e por ser tão querida, resolvi ter seu consentimento. Consegui convencer uma australiana a ir comigo! Ela era bem querida, já nos conhecíamos e tínhamos amigos em comum. Pensei que seria divertido!

O senhor chegou na manhã seguinte com o seu motorista/segurança para nos buscar. Como era dia de semana, não puderam nos acompanhar no passeio! No entanto, fomos até sua casa, almoçamos na pizzaria deles e seguimos com o motorista pela cidade! Ele era um rapaz super querido, percebia-se que gostava da família que trabalhava e nos levou por uma história no tempo! Fazia questão de nos contar histórias, explicar os lugares. E, eu traduzia tudo para a australiana.

Museu Nacional da Escravatura – Crew Australiana que me acompanhou e nosso motorista

Um dos lugares que mais me marcou foi um pequeno museu, bem na ponta de uma praia que constumava ser uma antiga capela. Era o Museu Nacional da Escravatura. Um local praticamente abandonado à própria sorte, mas que guardava um mundo de histórias.

Ao entrar, fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz, porque apesar de ser uma parte horrível do que aconteceu com a escravidão, é história e eu tenho uma paixão inexplicável por história.

Museu Nacional da Escravatura

Entrar ali era como se eu revivesse algo que eu nunca nem vivi. Era muito estranho! Por isso, ao começar a ouvir os fatos, me veio uma tristeza profunda! Foram mais de 4.5 milhões de angolanos enviados ao Brasil como escravos.

Que pena que não lembro mais o nome daquele rapaz. Sem querer, ele foi um ótimo guia. Apesar de dolorido, foi muito interessante ouvir tudo que aquilo representava, o que era cada coisa, como as pessoas haviam vivido ali e o que aconteceu com elas!

Museu Nacional da Escravatura – Réplica das Caravelas Utilizadas

O museu fica exatamente aonde os escravos eram batizados antes de serem colocados para embarcar nos navios negreiros que saíam para o Brasil ou outras colonias. E, apesar de estar bastante descuidado, foi fundado em 07 de Dezembro de 1997.

Museu Nacional da Escravatura – Mapa com a Rota de Escravos

Feira de arte

Ao longo do caminho, vi algumas feiras de arte na beira da estrada. Eu amo arte e teria uma parede enorme apenas com quadros do mundo todo se pudesse e também adoro comprar lembrancinhas típicas.

Paramos em uma e de longe bati o olho em um quadro e me apaixonei! Me lembro como se fosse hoje! Era um quadro enorme. Além disso, não fazia ideia de como o levaria pra casa. A tela, na verdade, não era tela. Era um pedaço de tecido que parecia mais com um lençol! Mas criei coragem e comprei! E, certamente, foi uma das melhores compras que fiz durante todos os anos de tripulante!

Na feira, você pode encontrar várias peças feitas a mão. Muita coisa esculpida em madeira, bastante artesanato e quadros. Eu sou apaixonada por feiras livres, então sempre recomendo para contribuir com a venda de produtores locais. Por isso, se você encontrar uma pelo caminho, aproveite para parar e conhecer!

Meu quadro!

Já escurecia e era quase hora de voltar! Mas antes, fomos encontrar a família argelina para um grande iftar (desjejum). Eles eram muçulmanos e era justo época de Ramadã (período de jejum). Portanto, queriam celebrar o jantar com a gente!

Fui embora feliz, apesar de tudo que vi e ouvi sobre a história do país. Enfim, ali conheci pessoas muito queridas, de religiões, condições e de vivências diferentes. E todos, apesar dos problemas que enfrentam, ainda conseguiram acolher duas estranhas e, fazer da viagem delas, uma experiência incrível!

Mal sabem eles que os guardo com muito carinho até hoje no coração!

Você já foi para Luanda?